O VÍCIO DO MEU PAI QUASE DESTRUIU NOSSA FAMÍLIA;- -- Filha de um ,bem sucedido empresário, Isabela Lemos de Moraes, 38 anos, cresceu em uma casa luxuosa, más desestruturada e tornou-se bulímica e anoréxica. Sua história retrata os efeitos da convivência de um dependente químico, fenômeno camado de codependência;" Minha mãe se dedicou inteiramente a cuidar do marido e sem perceber abandonou os filhos;
APARÊNCIA -- Na superfície, minha família aparentava ser absolutamente normal; Meus pais se conheceram jovens com 20 anos.Movavam no mesmo prédio, no Rio de Janeiro, se apaixonaram e, em seis meses, oficializaram a união. Por ele ser um empresário bem sucedido de uma distribuidora de gás, me permitiu ter uma infância cheia de luxo, assim a gente viajava muito e éramos muito unidos. Aos 10 anos notei que a situação mudava. Na época estávamos morando em Los Angeles, nos Estados Unidos. Meu pai, sempre tão carinhoso e presente, passou a viver trancado no quarto. A razão só seria revelada a mim quatro anos depois, quando encontrei no carro dele uma embalagem de pó compácto. Ao abrir, descobri cocaina no lugar de maquiagem.Coloquei um pouco daquele pó branco na lingua, que adormeceu na hora. Subi correndo a escadaria da casa para confrontar com meu pai. Em vês de armar um escândalo, gritar e negar, como eu esperava, ele assumiu tudo. Sem rodeios, disse que usava drogas havia anos. Explicou como e com quem consumia, qual era a sensação. A conversa, tâo natural para ele, me chocou.
FIM DO SONHO DE UMA FAMÍLIA NORMAL; A revelação representava o fim do sonho de ter uma família normal. E foi o que aconteceu. Sofri muito. Para começar, perdemos a estabilidade.Megulhado no vício, meu pai gastava o dinheiro da empresa e tentava abrir outros negócios, más os levava a falência.Além disso, minha mãe, preocupada e leal se dedicava inteiramente a cuidar do marido. Sem perceber, abandonou os filhos. Eu e meus irmãos não recebíamos mais carinho, atenção e limites. É claro que não demorou a desenvolvermos os próprios transtornos.
Meu pai foi internado mais de 20 vezes, todas contra a vontade, pois ele não assumia o vício, como proplema. Eu convencia minha vó a levá-lo para a clínica, quando via que ele estava perto de morrer. Desde jovem, ele tinha também um transtorno alimentar, a bulimia, e a droga o fez parar de comer. Ele emagreceu muito.Era comum sairmos para procurá-lo depois de dias de sumiço e depois acharmos jogado em algum lugar; Convivia com um medo constante de perdê-lo. A incerteza me tornou uma pessoa muito ansiosa, algo que tenho de combater até hoje.
AOS DEZESSEIS ANOS ; Quando fiz 16 anos, discubri que meu pai tinha uma amante. Assumi o papel de mulher traída, já que minha mãe estava, havia anos, anestesiada pela codependência, cega pela necessidade de ajudá-lo, a se curar. Briguei, gritei e saí de casa.
MORANDO SOZINHA; Fui morar sozinha num apartamento pequeno. Comecei a trabalhar como garçonete para pagar minhas contas. Meu padrão de vida caiu drasticamente, más eu não me importava com isso.preferia levar uma vida simples que podia pagar, más longe dos conflitos familiares. Só voltei pra casa quando o meu pai terminou o relacionamento extraconjugal. Sempre alimentei a ilusão de que conseguiria salvá-lo. Como me considerava a mais forte em casa, assumi que dependia apenas de mim intervir para pedir outra internação quando necessário.
BULIMIA--- ANOREXIA Meu pai nunca escondeu sua bulimia. Eu o vi, vomitando várias vezes depois das refeições. Aos doze anos entrei na mesma paranoia dele.Queria tanto emagrecer que virei Bulímica e, depois anoréxica. Perdi peso, com 1,70 metro, cheguei a 48 quilos. Hoje entendo que fazia isso por dois motivos. O primeiro é que,na hora , perdia o medo constante que me atormentava e me sentia no controle. E aquilo me aproximava do meu pai.Afinal, era algo que a gente tinha em comum. Ele em vez de me impedir, incentivava. Hoje vejo que a doença era um grito desesperado por atenção. Como nã consegui,tive de eu mesma pedir pra ser internada.
AOS DEZOITO ANOS;---Passei três meses numa clínica de rabilitação para me librar do disturbio. Depois que saí, nunca mais forçei o vômito, ou deixei de comer, más tenho até hoje pensamentos obsessivos sôbre emagrecer. Preciso manter um controle diário, como os alcoólatras. Isso prejudica meu humor e atrapalha minhas relações. Foi durante a internação que conheci meu primeiro marido. Ele tambem era paciente. Fomos morar juntos quendo tivemos alta e me engravidei. Achava que estava apaixonada, más, na verdade , eu só queria ter uma família normal. Estava carente. Antes do joão, meu filho, completar 1 ano, me separei e voltei mais uma vez pra casa dos meus pais.
Comecei trabalhar como modelo na época.Na agência, conheci meu segundo marido, também modelo. Era lindo, gentil, carinhoso e cuidadoso com o João.A gente se deu bem, más sabia que ele não era o homem da minha vida.Na verdade. Na verdade eu não estava pronta pra ter um relacionamento. Precisava resolver antes meus conflitos, cuidar de mim e me dedicar ao meu filho. Ao concluir isso, terminei mais uma relação. Más eu já me sentia mais forte. Até saí de vez da casa dos meus pais. Pedi socorro à minha vó para ter um apartamento e entrei na faculdade de direito. Logo consegui um estágio. O dinheiro não era tão abundante. Com um pouco de ajuda, porém, criei meu filho com dignidade. As pessoas me chamam de louca, más preferí abrir mão do luxo para ter paz e tranquilidade. Tentei fazer com o meu filho tudo ao contrário do que meus pais fizeram comigo. Na verdade, quando me engravidei, enfrentei uma crise, com medo de ser mãe. Com a história que tinha, parecia impossível eu cumprir bem esse papel. Li os livros que encontrei sobre educar uma criança.Más segui o meu bom senso, minha intuição e meu amor pelo João.
Hoje ele tem 17 anos e me deixa orgulhosa todos os dias. Foi quem me deu vontade de mudar de vida. Sair de casa foi um momento de transformação para mim. Comecei a investir em mim mesma, pensar o que precisava para me conhecer melhor e resolver minhas questões. Foi aí que compreendi que não podia salvar meu pai. Até então, anulava a minha vida para tentar isso. Agora sou outra pessoa. Escrevi um livro com a minha história isso me ajudou muito. Tenho um bog no qual compartilho minhas experiências. Recebo e-meios contando casos semelhantes. É bom saber que mais gente sentiu a mesma coisa que você. E assim estou aprendendo e superando cada vez mais tudo de ruim que vivi.
Da mesma forma meus irmãos sofreram muito. Uma irmã foi viciada em cocaina. Assim como criei uma relação com meu pai por meio da bulimia, ela usou conexão usando drogas. Hoje está livre delas. Meu irmão foi morar nos Estados Unidos. É lá que vive o caçula. Foi com 16 anos e não voltou mais, um jeito de se preservar.Somos unidos. Há 15 anos minha mãe se libertou da vida sofrida. Ela se separou, casou novamente e está feliz.Não sei nem como aguentou tanto tempo. Afastada, reconheceu que negligenciou os filhos muitas vezes, na tentativa de salvar o marido.
Não fez por mal e, agora, ela entende melhor e cobra menos. Meu pai está em recuperação ha cinco anos. A empresa foi vendida e ele mora num prédio de minha avó, que é sua tutora legal. Decidiu largar as drogas ao se ver só, sem a mulher e os filhos.Hoje sabemos que ele é tambem é bipolar.O vício potencializava o transtorno psiquiátrico.Não consigo visitá-lo com frequência, apesar de amá-lo. O passado vem à tona.
O esforço para me reerguer teve resultados positivos . Estou me formando em jornalismo e faço cursos de gastronomia. Tenho planos de abrir um café ou restaurante. Meu libro está indo bem e, no início deste mês, até dei palestra na Bienal do Livro, no Rio. Sinto que está na hora de virar, totalmente a página e deixar a história para trás. O melhor de tudo é ver a vida seguindo adiante." ' CRIEI MEU FILHO COM DIGNIDADE. ME CHAMAM DE LOUCA, MÁS PREFERI ABRIR MÃO DO LUXO PARA VIVER EM PAZ'
ARTIGO PUBLICADO NA REVISTA CLAUDIA SETEMBRO/2013(depoimento de Isabella D´ercole)
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