CRIANDO,PRESERVANDO,FUTUROS CAMPEÕES

DINHEIRO
08/12/2015 09:58
Decepção entre os mais pobres é com governo, mas não com o projeto’
Para o presidente do instituto Data Popular, crise provoca nas classes C, D e E sensação de ‘abandono e orfandade’ mas elas defendem um Estado ‘eficiente, sem ser enxuto
O economista Renato Meirelles passou os últimos 14 anos dedicado a entender, no seu instituto Data Popular, como vivem e sobrevivem, no Brasil, as classes de menor renda – C, D e E. Por serem as mais numerosas, ele sabe que suas reações ou desejos significam, estatisticamente, o que pensa e sonha a maioria dos cidadãos.
“E o sentimento dominante é de abandono, até de orfandade”, resume nesta entrevista a Gabriel Manzano. “Pela primeira vez há uma sensação de perda – nas crises anteriores não havia. E eles querem de volta as oportunidades que sumiram do horizonte”.
Para quem gosta de cálculos políticos, Meirelles destaca um detalhe importante: “Há uma decepção com a presidente mas não com o projeto. Por isso eles criticam Dilma, mas sem aderir à oposição”. A seguir, os principais trechos da entrevista.
Como, a seu ver, os brasileiros das classes C, D e E estão reagindo à crise que ocorre atualmente no País?
O que se nota é a resiliência da população. Esse brasileiro está segurando a onda. Sendo criativo. Eu resumiria nisso: resiliência e criatividade. Ele está se virando para sobreviver. E, ao mesmo tempo, há uma gigantesca sensação de abandono – que, na verdade, não é só dessas classes, é geral. Até mesmo de orfandade.
E que consequências práticas isso traz, em especial nessas classes de menor renda com quem você trabalha?
O resultado disso é que o brasileiro, em geral, está muito mal-humorado. Metade da população acha que esta é a maior crise econômica que o Brasil já viveu. A gente sabe que não é. E por que eles veem assim? Primeiro, porque um enorme contingente de jovens, nesses grupos, jamais viveu um cenário tão difícil. Pela primeira vez em muito tempo, eles começam a ter uma sensação de perda. Uma coisa é achar que a vida não vai pra frente, sensação que existia em 2002, outra é que o país parou, como em 2008. Agora, ele sente algo novo: que ele está começando a perder o que havia conquistado. O sonho de melhorar se desvaneceu.
ESTADÃO/08/12/2015.