PÁGINAS DA VIDA; - ÉRICA MENDONÇA BERATO, dona de casa, 29 anos;
"A gravidez do Felipe, meu único filho, foi bastante comemorada. Fiz todo o pré-natal direitinho, como deve ser, e os exames não detectaram nada fora do normal. Por isso, o choque foi tão grande quando ele nasceu com uma anomalia do lado direito da face: sem a orelhinha, com o olhinho quase fechado e mal-formação do nariz. No fundo, no fundo, acho que pressentia que algo não ia bem. Andava triste e angustiada, tanto que fui chorando de casa até o hospital no dia de fazer a cesárea.. Só fiquei aliviada na hora que o médico veio com o meu bebê, más essa tranquilidade durou pouco. logo em seguida, ele chamou meu marido, Edinaldo, e nos disse que Felipe tinha um "probleminha", perguntei:" O que é se não percebi nada?" Quando o doutor contou, o sofrimento me cegou, tive um surto e gritei que eles havia trocado a criança.
Ainda na sala de parto, porém, trouxeram meu filho novamente e eu reconheci. Da primeira vez, apenas o lado esquerdo, que era perfeito, tinha mostrado para mim. Questionei porquê de isso ter acontecido comigo. Tem tanta gente que joga seu bebê no lixo, que rejeita, e eu que desejava tanto! Mas, no auge daquele desespero, felipe tocou meu rosto. Naquele momento a nuvem carregada que pairava no ar foi embora e eu falei: "Me perdoe meu filho. Seja bem-vindo e que Deus te abençoe". Ele sorriu para mim.
Chorei muito durante dez dias. Más, a partir dali, botei na minha cabeça: "Esse é meu filho, essa é a minha vida e vou ter que lutar". Acho que, quando algo do tipo acontece, a pior fase é a não aceitação, porque aí as coisas não fluem. Conheço pais de criança de 10, 11 anos que ainda sentem vergonha da deficiência do filho. Claro que é muito difícil lidar com essa situação e eu não tinha idéia de por onde deveria começar minha batalha. Savia, no entanto, que não poderia ficar parada, só esperando. No princípio pensava apenas que Felipe precisaria de cirurgias plásticas. Ficava apreensiva ao imaginar o futuro, que ele poderia ser discriminado na escola. Notei, porém, que o preconceito maior vem dos adultos. Uma vez, por exemplo, a gente estava no supermercado quando duas mulheres se aproximaram do carrinho em que ele brincava e uma delas falou: "Olha, que monstrinho".".Eu não poderia admitir que fizesse aquilo. Se eu não dispusese a defender meu filho, quem faria isso? Ele não poderia crescer se sentindo desamparado. Bati boca e chamei a polícia. Ela tentou argumentar que eu estava louca, mas um senhor que testemunhou a cena confirmou o que a mulher tinha dito .
Felipe tem uma síndrome rara e pouco estudada chamada Goldenhar, anomalia genética caracterizada principalmente por problemas craniofaciais do lado direito e que atinje um em cada 21 mil nascidos vivos. Passamos por muitas privações na vida desde que ganhei meu menino. Nas primeiras semanas de vida ele apresentava muita dificuldade de mamar no peito e se cansava logo.Achando aquilo esquisito, o levei ao médico e ouvi que eu era marinheira de primeira viagem e que estava com preguiça de amamentar. De novo, parece que pressenti algo errado. Quando ele tinha 24dias, percebi que a respiração não estava normal e fui a posto de saúde.De la meu bebê foi transferido para a UTI de um hospital.Ficou 135 dias internado porque havia oito buracos do lado direito do coração.
O especialista ficou surpreso pelo problema não ter sido diagnosticado nem durante o pré-natal nem na maternidade. Disse que meu filho nunca deveria mamar no peito porque isso exigia dele um esforço imenso. Poderia ter tido uma parada cardíaca nos meus braços. Naquela ocasião, ele fez uma cirurgia e, seis meses depois, outra. Felismente o problema cardíaco foi resolvido.
Como ainda restava a má-formação na face, procurei atendimento e consegui. Felipe fez 15 operações para reconstruir o nariz, mas elas não foram bem sucedidas. Só soube disso quando o médico dele se aposentou e fui em busca de outro lugar para continuar o tratamento. Descobri, então, em São Paulo, o o Facial Anomalies Center (F.A.CE.) criado pela cirurgiã plástica Vera Gardim (uma das vencedora do prêmio CLAUDIA 2013). Ela é um anjo. Aliás, toda a equipe de lá é. Sou muito grata pelo atendimento que deram e ainda dão ao meu filho. São profissionais especializados, extremamente competentes e dedicados, que deram um tempo.
O F.A.CE. é uma entidade filantrôpica. Eu jamais teria condições de bancar o tratamento como esse porque parei de trabalhar como assistente financeira justamente para cuidar do Felipe, e meu marido é metalurgico. Tentamos até contratar um plano de saúde, mas o convênio não aceitou nosso filho. Por isso, foi uma grande bênção termos encontrado a doutora Vera.
Quando ela operou o nariz do meu menino pela primeira vez, ficou estarrecida de ver o que o outro médico tinha feito. Havia pele solta e enxerto onde não precisava. Em decorrência desses erros ele não respirava direito. Nas madrugadas mais frias, eu e meu marido nos revesávamos, porque Felipe só conseguia dormir meio sentadinho e tínhamos de segurá-lo. O resultado dessa intervenção da doutora Vera já foi fantástico. Só que meu menino , tambem era extremamente agitado, não parava quieto um minuto sequer e falava com muita dificuldade. Por causa disso, a equipe d F.A.CE. descofiou que ele tivesse hipertensão intracraniana. Então, na segunda operação do nariz feita lá foi realizada uma tomografia craniofacial completa, e a suspeita se confirmou. Era final de 2011 e meu filho tinha 5 anos.
Nos 24 meses seguintes, foram mais de seis tomografias, três ressonâncias magnéticas, diversos outros exames e consultas semanais com uma neuropsicóloga para ter certeza absoluta do diagnóstico. Tudo feito gratuitamente. até que, em dezembro de 2013, ele foi submetido a uma operação para aliviar a pressão do crânio. A neurocirugiã Nelci Zanon, que faz parte da equipe, também é fantástica.
Quem não conhecia o Felipe não tem idéia de como essa intervenção provocou uma verdadeira revolução na vida dele. Fiquei impressionada como a lingua do meu filho destravou e ele passou a falar superbem. Com isso deslanchou na escrita e, por outro lado, a agitação diminuiu 95%. As mudanças foram tão positivas e rápidas que me assustei.
Sei que meu filho terá que se submeter a outras cirurgias, pois falta fazer a orelhinha e os médicos querem mexer um pouquinho mais no nariz. Aprendi, porem. a ter paciência, porque esse processo é lento, e precisa ser assim. Penso dessa maneira hoje porque confio plenaqmente na doutora Vera. Tenho certeza de que tudo o que virá daqui em diante será sempre para o bem do Felipe. Ele é apenas uma criança, completará 8 anos em novembro e já passou por tanta coisa! às vezes, ainda é discriminado - até em nossa família. Mas não me importo mais com quem não acrescenta. Faço questão de permitir que tenha uma vida completamente normal, estude, passeie e brinque com outros meninos da idade dele.
Uma das melhores coisas da equipe da Dra.Vera é que eles só constroem rostos: todos ali se preocupam em elevar a autoestima dos pacientes. Desse modo, eles tambem tratam mentes e corações."(Vera Cardim já realizou desde 2005 mais de 1,8 mil cirurgias craniofaciais pelo SUS- 85% delas em crianças) - Artigo publicado na revista CLAUDIA SETEMBRO/2014).
JANE CARLA SILVA SANTOS - empresária 36 anos, "Comecei numa portinha e hoje tenho um mercado que movimenta 50 mil reais"
"Hoje posso dizer que me sinto feliz e realizada. Sou de uma família simples e de seis irmãos, e nunca tive o menor medo do trabalho. Quando meu marido ficou desempregado, em 2000, não hesitei e fui a luta: lavava roupa para fora no período de manhã e a noite, saia para vender churrasquinho. Com uma filha pequena para criar, não me restavam mais alternativa. Foi um período bem dificil, de muitas privações. Morávamos em um quartinho pequeno que não tinha nem banheiro. Dividíamos o cômodo no meio com o guarda-roupa para termos alguma privacidade. Nossa renda era de apenas 150 reais e o dinheiro só dava mesmo para as coisas mais básicas. Certo dia, me veio uma luz: porque não montar uma padaria? Afinal, meu marido tinha experiência no ramo. Mas: meu irmão havia sido dono da padaria, já fechada àquela altura. Pegamos as máquinas emprestadas de fazer pão dele e abrimos nosso negócio. Talvez tenha sido por falta de persistência que a padaria do meu irmão não foi para frente. Ao abrir a minha, fiz diferente: insisti durante anos, achava que poderia vencer. Acho que isso foi fundamental. Comecei numa portinha e, com esforço, consegui transformá-la em um mercado que movimenta cerca de 50 mil reais por mês em produtos.
DENISE KUSMINSKI, 58 ANOS, REPRESENTANTE COMERCIAL.
“Estudei e ajudei meu filho a viver com uma doença rara”,
“Murilo nasceu com uma cabeça grande demais em relação ao corpo e era muito pequeno. Impotente com a falta de resposta sobre a síndrome dele, a de Russel-Silver, foi estudar. Com base na hemotoxicologia (que identifica substância nociva ao homem) e na homeopatia, descobri que ele era alérgico a glúten e lactose. Só de tirá-los da dieta, ele melhorou. Além disso, um tratamento homeopático o fez crescer 20 centímetros em um ano. Hoje aos 29, Murilo tem 1,74 metros e está saudável. A doença dele me fez acreditar que eu era capaz. Hoje tenho uma clínica de medicina complementar e uma padaria de produtos funcionais. Assim ajudo outras famílias.”
SOFIA, 58 ANOS, DENTISTA E HOMEOPATA.
“Optei por adotar uma menina com AIDS” “Foi um presente conviver com Kat, minha filha do coração, que partiu aos 13 anos. Seus pais que morreram com AIDS, transmitiram o vírus para ela. Decidimos adotá-la sabendo que a sobrevida poderia ser curta. Nós a levamos para se tratar nos Estados Unidos. Depois, demos a volta ao mundo de veleiro. Ela escalou montanhas e vulcões, nadou em alto- mar e mergulhou com golfinhos. Internada com pneumonia, Kat pintou um quadro e disse: “Este é meu coração”. Deixo para você se lembrar sempre de mim”. No dia seguinte não resistiu a duas paradas cardíacas. Ela me ensinou a aproveitar as pessoas enquanto estão conosco. Escrevi um livro e, no próximo semestre, lançaremos um filme sobre sua história, ambos chamados Pequeno Segredo”.
ELOÍSA SCHURMANN, 68 ANOS, ESCRITORA E VELEJADORA.
“SELECIONEI OS GENES PARA TER A SEGUNDA FILHA, E ELA SALVOU A VIDA DA PRIMEIRA”.
“Aos quatro meses, descobrimos que Maria Vitória tinha telassemia, doença genérica que provoca sintoma de anemia em vários graus. Ela recebia bolsa de sangue a cada três semanas. SOFIA, 58 ANOS, DENTISTA E HOMEOPATA.
“Optei por adotar uma menina com AIDS” “Foi um presente conviver com Kat, minha filha do coração, que partiu aos 13 anos. Seus pais que morreram com AIDS, transmitiram o vírus para ela. Decidimos adotá-la sabendo que a sobrevida poderia ser curta. Nós a levamos para se tratar nos Estados Unidos. Depois, demos a volta ao mundo de veleiro. Ela escalou montanhas e vulcões, nadou em alto- mar e mergulhou com golfinhos. Internada com pneumonia, Kat pintou um quadro e disse: “Este é meu coração”. Deixo para você se lembrar sempre de mim”. No dia seguinte não resistiu a duas paradas cardíacas. Ela me ensinou a aproveitar as pessoas enquanto estão conosco. Escrevi um livro e, no próximo semestre, lançaremos um filme sobre sua história, ambos chamados Pequeno Segredo”. Aceitei a doença, más nunca a ideia de que não havia chance. Só um transplante de medula resolveria. Más meu marido e eu não podíamos doar, já que temos esses genes. Ultrapassamos os limites da medicina e convencemos um médico a fazer, pela primeira vez, uma fertilização com nossos genes, porém selecionados. Após três anos de tentativas, nasceu Maria Clara. Quando fez um ano, célula-tronco dela seguiu para a medula de Maria Vitória. No mês passado, veio à notícia da cura. Maria Clara é um anjo. As duas irmãs são saudáveis e mantem uma ligação forte e especial.”
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